Existe um erro que cometemos que não deve ser ignorado: o quanto nos deixamos levar pela opinião alheia, em vez da certeza e convicção daquilo que Deus já fez e já falou connosco – se ainda tens alguma dúvida de que Deus fala connosco, podes conferir um pouco sobre o assunto neste texto.
Deixa-me pôr-te a par…
Há meses tempos atrás, pedia a uma amiga para orar por mim por uma situação específica que me remeteu a pensar que ainda não estava curada quanto ao que passei com a figura masculina.
Em vez de ouvir algo como “conta com as minhas orações”, ouvi: “Ana, mas quem te disse que não estás curada?”
Na expressão que se usa actualmente, essa minha amiga alugou um triplex na minha mente assim que me fez essa pergunta!
Comecei a reparar no quanto eu ainda sou influenciada pelo que as pessoas ditam a respeito dos meus próprios processos como se elas vivessem na minha pele. E o quanto o meu emocional/humor oscila conforme se o feedback dessas mesmas pessoas é positivo ou negativo.
E, pior de tudo, o quanto eu ainda reprimo emoções normais e necessárias que apenas me indicam que estou a passar por um caso isolado!
Optei por fazer-me perguntas simples e notei que, afinal de contas, o que me tinha acontecido fora apenas um caso e não uma amostra da minha “falta de cura”.
Tendências não são garantias!
Há um aspecto muito importante que aprendi com a minha discipuladora: embora eu tenha tendências para alguns comportamentos de dependência emocional, isso não quer dizer que vá ditar o final de qualquer vivência minha.
Ter uma inclinação habitual que aponta para um comportamento específico – e aqui uso o meu exemplo da dependência emocional – não quer dizer que eu não esteja apta a tomar uma decisão racional.
Ou seja, eu sei que a cura já está em mim, quando eu percebo que faço uma escolha racional, mesmo quando eu gostaria que tudo fosse diferente, ou, quando não entendo nada do que está a acontecer.
Isso não quer dizer que não haja erros cometidos da minha parte, mas também não quer dizer que não esteja curada! Pois erros não evidenciam a falta de cura, mas apenas que sou humana – tal como tu, eu também luto contra a minha velha natureza.
Tendências de comportamentos que têm origem em traumas não são garantia de que vamos permanecer num lugar doentio. Pelo contrário, as tendências podem continuar a existir, mas quem está plenamente curado sabe que elas estão lá, mas não ditam o final.
Existo, logo erro e sinto.
O meu grande problema nesta questão foi que, pelo facto de ter passado por um episódio em que outra pessoa me deu sinais confusos, lhe faltou responsabilidade, proporcionou um ambiente de ligação emocional, e eu caí que nem uma pata!
Nunca tinha passado por algo parecido e nem sequer sabia que alguma vez poderia acontecer comigo. Por isso, quando eu me dei conta do que aconteceu, comecei a sentir muita raiva.
Raiva que tanto era expressa com longas orações despejando o meu coração para Deus, como em sessões de terapia e conversas com mulheres mais velhas.
Eu queria a todo o custo livrar-me daquele sentimento que, ainda para mais sendo cristã, eu estava convicta de que estava em pecado.
ERRADO!
Apenas sentia raiva pela situação, mas, maioritariamente, de mim. Porque eu permiti que tudo isto acontecesse e não pulei do barco à primeira bandeira vermelha! Tudo por causa de uma tendência…
Mas, o que não pode ser ignorado é o facto de que eu não estou a pecar por ter raiva – Deus criou-nos com emoções, não somos robôs – agora, o que eu faço com ela é que me pode levar a pecar.
Sei aquilo que vivi, sei o que ouvi e sei o que se passou. Como sei onde falhei e o que poderia ter feito diferente. E o que eu tinha para me arrepender, já me arrependi. Contudo, eu não posso tomar este episódio, este caso isolado, como uma garantia de que não estou curada quanto à figura masculina.
A raiva que senti foi por este episódio, não por causa de anos e anos de dor. Tanto que achei que estava a voltar ao início e que não tinha perdoado todos os homens que me feriram no passado.
ERRADO DE NOVO!
Só estava a ser humana, só estava a sentir tudo o que esta vivência me provocou. Nada mais do que isso. Sendo que a maior batalha foi comigo. Devido à minha tendência eu passava noites acordada a perguntar-me o que tinha de errado, o que eu tinha feito de errado, se haveria algo mais a pedir perdão…
Já estão a imaginar a tortura?
Interpretações erradas
Por isso, o meu objectivo é encorajar-nos a sermos bastante convictos de quem somos em Deus e de tudo o que Ele já nos provou ao longo da nossa jornada com Ele.
Precisamos recordar a nós mesmos do quanto Deus nos transformou, dos lugares de dor que nos tirou, de quem Ele nos tornou e não nos martirizarmos por um caso isolado ou pelas interpretações erradas de alguém que pensa que a nossa vida só começou agora.
As pessoas vão ter sempre as suas percepções a nosso respeito. Seja pela nossa história, seja pelas decisões que tomamos e seja, lá está, por casos isolados.
Isso quer dizer que já não existam coisas em nós para serem trabalhadas? Não! Pelo contrário, a cura torna-se evidente pela aptidão, pelo desejo, que temos para trabalharmos nas nossas questões mais íntimas, exactamente, porque não queremos voltar ao lugar que estávamos.
Então, já que estamos a ter acesso e a usar todas as ferramentas para continuarmos a trabalhar nas nossas questões internas, é bom nos lembrarmos que não vale a pena voltar atrás para lamber feridas cicatrizadas.
Já não estamos em fase de perder tempo. Por isso, é necessário sabermos bem quem somos e a quem devemos dar ouvidos.
Esse não é o estágio final!
Por fim, o que precisamos é descansar nas verdades que Deus tem nos falado ao longo da nossa caminhada. Que já não se carateriza por uma caminhada de dor ou sofrimento, e nem se caracteriza por ser uma jornada de pura concretização ou cura.
A tua e a minha vida é caracterizada pela história de amor que Deus conta através das nossas feridas e das curas que opera em nós; a partir dos nossos tombos e do nosso levantar.
Seja com lágrimas, seja a sorrir, casos isolados na nossa vida não determinam quem somos. Para trás devemos deixar tudo o que nos pesa e nos aprisiona e prosseguir para o alvo que é Cristo.
Nesse prosseguir haverá mais tombos, mais falhas, mais casos isolados, com diferentes personagens, etc… mas também haverá a sabedoria do Alto que irá caminhar lado a lado connosco e que vai nos ajudar a filtrar bem o que vivemos, o que ouvimos e o que sentimos.
O que nos persegue não são traumas, dores ou falta de cura. Mas bondade e misericórida. E por todos os dias da nossa vida.
Palavra mais do que necessária!!