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Crescer com a minha avó

Ela faz parte do meu mundo muito antes de eu nascer e sempre acreditou em mim, até quando muitos já davam o caso por perdido.

Estou a falar da minha Maria, a minha avó.


A vida tem nos levado a estar cada vez mais próximas, mais unidas. Ela carrega a sabedoria de anos e que o próprio Deus lhe dá, marcas de uma vida de luta e de suaves vitórias. E eu carrego a força e a determinação que herdei dela e da minha mãe, e que o próprio Deus me dá.

Posso afirmar que a minha educação vem toda da minha mãe e da minha avó materna. As duas sempre me garantiram segurança e tudo o que eu precisava. Assim como, me garantiram uma educação que faria de mim uma mulher educada, inteligente, determinada e alegre.


De todos os meus momentos eu tento sempre lembrar-me dos seus conselhos e ensinamentos. Mais do que fazer boa figura, quero muito honrar as duas a partir da vida que levo - nem sempre tenho sucesso, mas continuo a tentar.


Eu e a minha Maria temos 54 anos de diferença. E viver com uma senhora completamente diferente de mim (em tudo) tem sido das maiores aventuras da minha vida.

Não me lembro da minha infância sem um único episódio em que ela não estivesse presente e temos nos tornado mais presentes na vida uma da outra.

Não apenas como duas conhecidas que moram na mesma casa, mas como duas amigas. Como mulheres que têm a mesma fé e a partilham uma com a outra – pois temos convicção que ambas podemos sempre aprender juntas.

Fora o facto de que, mesmo já sendo adulta, dou por mim a correr para ela para, simplesmente, chorar. Confio-lhe tudo e choro os desgostos da vida, as saudades da minha mãe, o desprezo de alguns e as minhas falhas.


Assim como é a primeira a saber das minhas alegrias e das minhas conquistas. Rimos juntas, oramos juntas e dançamos juntas.



Hoje em dia, parece impossível a ideia de termos familiares como amigos, mas eu agradeço a Deus porque a minha avó tornou-se a minha melhor amiga.


Tornou-se porque ao longo da juventude mentiram-me - e eu acreditei - que ela era uma mulher que me aprisionava e não me deixava viver a vida como uma adolescente normal.


Bom, ela não poderia criar–me como uma adolescente normal porque eu não o era!


No meu círculo de amigos nunca encontrei um colega que estivesse no mesmo barco que eu. Logo, eu não poderia ter a mesma educação que os demais. A vida tinha decidido forjar-me de outra forma. E a minha avó entendeu isso melhor que ninguém.


Embora tenha apenas o quarto ano de escolaridade, ela soube orientar-me a lidar com as minhas dores de uma forma impecável.


Tornou-me responsável e dedicada ao trabalho. A prezar pela verdade e pelo o que é correcto. A dar honra e respeito a quem os tem. Amar os outros sem esperar nada em troca.


Ela viveu e aguentou muito, sabem? Um marido agressivo, três filhos enterrados, uma vida inteira de trabalho…


É, sem sombra de dúvidas, uma mulher de família e de muita fibra. E pela família lutou. Sei que o amor dela é único pela forma como nos ama e se sacrificou por nós.


Se eu tenho relances de uma infância feliz eu posso agradecer muito a Deus pela mãe e pela avó que tive. As duas eram uma dupla fenomenal. Quase não vejo isso hoje em dia, e confesso que o meu coração se entristece.


Com uma neta na adolescência, completamente revoltada, eu sei que não foi fácil, pois ouvi-a muitas vezes desabafar que não estava em condições de me criar pois sentia-se velha, cansada e com enormes dores no coração.


Contudo, sou testemunha de que Deus redime histórias fracassadas e dolorosas, para contar uma história de esperança e apontar para um futuro.

Uma vez, ouvi-a orar por mim e começou por dizer: “Senhor, eu sempre te entreguei a Margarida nas Tuas mãos…”.


Até hoje, só de me lembrar dessas palavras eu começo a sentir uma vontade enorme de chorar. Porque sei o peso e a beleza que existem nessas palavras. E o quanto a minha avó sempre confiou em Deus.



Admiro-a porque, apesar das dores da vida, não se tornou uma mulher amarga e nunca desistiu de viver. Chorou e sofreu muito, mas em todos os momentos eu cheguei a ver um sorriso na sua boca.


O mais valioso que tenho aprendido da vida não vêm apenas de livros ou de excelentes oradores. Mas sim dos conselhos e da vida da minha avó. Da sua sabedoria que vem do Alto.


Não existe nada mais profundo e mais verdadeiro do que as palavras de quem não finge amor por nós. Quem nos ama verdadeiramente dirá sempre a verdade em amor para o nosso bem.

Com a minha avó aprendi o que é me alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram. A ser sem precisar de ter. E ao ter, ser feliz com o que há. Foi o “passo-a-passo” mais bonito que já experimentei, pois teve e tem muita paciência comigo.


A ser forte e alegre, reconhecendo Quem me dá a alegria e a força que preciso para esta vida.


Vê-la envelhecer é belo e doloroso ao mesmo tempo. Por um lado, vejo-a livre e a viver os seus dias ao seu ritmo e na sua calma. Noto o quanto está mais leve e mais radiante da família que construiu.


Por outro, é como se eu visse que o tempo está a esgotar-se. Só me resta aproveitá-la pelos longos anos que ela ainda tem pela frente - assim peço a Deus. E que ela veja a recompensa de todo o bem que tem feito.



Ela é uma das pessoas que deixam a minha história de vida mais bonita. E eu não me canso de falar dela. Pois eu estou a aproveitar enquanto posso, enquanto ainda a tenho.


Queres um conselho? Honra os teus. Não esperes por reconhecimento de outros, fá-lo com amor e dedicação e verás os frutos de tudo isso.

E lembra-te: por mais que te esforces e te preocupes, ninguém cuida melhor dos teus do que o próprio Deus. E Ele cuida de ti, em tudo.


Comments

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Comentários (26)

Convidado:
22 de out.

Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️

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Convidado:
27 de ago.

“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯

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Convidado:
27 de ago.

A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.

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Convidado:
26 de out. de 2023

Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
14 de nov. de 2023
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Hehe como nosotros decimos acá: Ora essa! :)

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Convidado:
18 de out. de 2023

Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
14 de nov. de 2023
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Seria bom voltar, né? Pode ser que um dia tenhamos boas notícias e seja possível voltar com tudo em paz :)

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Armando Marcos
Armando Marcos
18 de jul. de 2023

Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo

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Convidado:
18 de jul. de 2023

Wow! Que corazón enorme Dios te dió.

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
14 de nov. de 2023
Respondendo a

Sin ninguna duda! :) gracias por leer el texto.

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Convidado:
06 de jul. de 2023

Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
13 de jul. de 2023
Respondendo a

Obrigada pelas palavras, que possa encorajar e fortalecer quem está no mesmo barco.

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Convidado:
28 de jun. de 2023

Que post sensacional sobre sermos o sal da terra! Maravilhoso ❤

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
13 de jul. de 2023
Respondendo a

Muito obrigada :) é muito importante, principalmente, nos dias que vivemos.

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Convidado:
14 de dez. de 2022

O medo é uma realidade vencida pela coragem. És corajosa e tens mostrado prendas dadas por quem te ama a tal maneira.

És Ana, conhecida e amada desde a fundação do mundo.

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