Já mencionei várias vezes aqui no blog que toda a minha educação cristã veio da minha mãe e da minha avó.
Contudo, nunca expliquei qual a vertente: o Protestantismo.
Somos mais conhecidos como evangélicos, e já lá vai o tempo em que tínhamos medo de o dizer por causa de todos os escândalos da IURD - denominação que nem faz parte da Aliança Evangélica Portuguesa.
Foi nesta vertente que cresci, fui educada e me converti. Na vertente nascida da tradição reformadora. Uma tradição que se indignou e se colocou contra os dogmas da Igreja Católica no século XVI.
Martinho Lutero. Este nome diz-te alguma coisa?
Bom, se não diz… devia. E assim digo porque este nome é falado e estudado no ensino secundário - seja a escola pública ou privada.
Não só o dele como o de João Calvino e Ulrico Zuínglio.
Se, por acaso, fizeste parte da área de Ciências e Tecnologias, então, estás perdoado(a) porque sei que a disciplina de História não estava no currículo.
Já o resto da malta não tem desculpa. Pois eu passei pelo ensino secundário, na área de Línguas e Humanidade, e lembro-me perfeitamente de estudarmos esta parte importante da história europeia.
Com isto, quero-te dizer que a Reforma Protestante - a linha do Cristianismo onde me enquadro - é parte fulcral da história da Europa, que não só exigiu da Igreja Católica uma reforma (não aceite) como fez este continente desenvolver-se ainda mais em educação, música e arte.
«Muito bem, Margarida. Mas onde queres chegar com tudo isto?»
Ora bem, sempre que mencionava que era evangélica já me olhavam torto. E fui começando a mentalizar-me que fazia parte de uma minoria no país, já que é maioritariamente católico.
Assim como, me sentia como uma espécie de extraterrestre e tinha que explicar sempre as coisas mais básicas. A forma que tinha de explicar era por começar a dizer o que não era.
O que um cristão evangélico não é
Ao contrário do que dizem, não é uma seita, não tem nada a ver com a vertente católica, nem com os escândalos da IURD, nem com as Testemunhas de Jeová e, muito menos, com os Mórmons.
Hoje em dia, consigo entender o porquê de tanta confusão e olhar torto. A falta ou o desinteresse de informação podem prejudicar bastante quando nos deparamos com algo diferente do comum.
E, infelizmente, quando algo fora do comum aparece… normalmente, é-lhe dada atenção pelos motivos errados.
O engraçado é que o que é bom ninguém nota… bom, para isso creio que seria bom verem esta reportagem que passou na TVI (não vou dar spoilers).
Mas, nem tudo foi mau e nem tudo foi em prol de me categorizar como a esquisita do grupo. Não é esse o ponto.
Até porque, por ser diferente e pouco falado, gerava interesse e daí vinham as perguntas para tentarem perceber o que, afinal, era ser evangélico.
O que um cristão evangélico é
O evangélico é descendente da Reforma Protestante.
É o que preza pelas Escrituras com tanta intensidade e é guiado de tal modo por ela que não admite deixar-se enganar por dogmas humanos - que são falhos e mutáveis - assim como não coloca homem algum na ribalta.
Nós, evangélicos, somos conscientes de que somos discípulos de Jesus onde a nossa fé está voltada para o Deus único e nenhuma adoração é direcionada da nossa parte senão a Ele. Onde não existe mais nenhum intermediário entre Deus e os homens senão Jesus, o Filho de Deus.
Cremos que somos salvos pela graça de Deus e não por obras. Não há nada a mais ou a menos que possamos fazer para comprar ou merecer o amor de Deus e a Sua graça. Ele a dá e nós aceitamos e isso é suficiente.
Serviços de culto
Por aqui, podes perceber que, embora tenhamos uma relação de respeito com os católicos, nós não somos parecidos. Inclusive, somos bastante diferentes no que diz respeito aos “ritos”.
A nossa celebração aos domingos é marcada por oração, louvores e pregação da palavra.
A Santa Ceia, que na maioria das congregações acontece uma vez por mês, é um memorial para recordar o sacrifício de Jesus por nós. Celebramos a morte e ressurreição de Jesus, assim como avaliamos como está a nossa vida perante Deus e perante os nossos irmãos.
O Baptismo é um marco para qualquer cristão. Ainda hoje me recordo do meu. Tinha 14 anos e, só de me lembrar, o meu coração fica saudoso.
É um momento importante pois acreditamos na decisão consciente e pública que estamos a tomar. É o momento em que assumimos perante todos que cremos em Jesus como nosso Senhor e Salvador.
Assim como, é naquele momento que renunciamos à nossa velha vida e velhas prácticas e damos espaço ao novo em Deus.
«Isso é uma religião de americanos e brasileiros»
Eu sei lá quantas foram as vezes que ouvi esta frase. Com muita paciência lá tinha de explicar o óbvio.
Por isso, é importante mencionar que ser evangélico não se trata de mudar de religião e nem de entrar numa “religião de brasileiros ou de americanos”.
O facto de, por exemplo, o Brasil ser um país maioritariamente evangélico (protestante) não significa que seja uma religião exclusiva do país. Aliás, se Portugal entendesse isso talvez a xenofobia começasse a abrandar.
Até porque, vamos pela lógica: O Brasil é inúmeras vezes maior que Portugal. E se, na sua maioria, são evangélicos e a maior comunidade de imigrantes que temos são brasileiros… então é só fazer as contas: 1+1=2.
E cada um é livre de continuar a practicar o seu credo em qualquer lugar no mundo.
Curioso, não é? Este medo que o ser humano tem do que é diferente e, como tal, para defender o que conhece e lhe é comum, ataca sem medida numa forma de se proteger.
O problema é que ignoramos a história e ignoramos o próprio Cristo. E andamos aqui todos à batatada sem necessidade alguma. E a aumentar os preconceitos e a falta de informação.
Em suma…
Escrevo apenas para apontar o que, no fundo, é parte constituinte da minha identidade e de muitos outros que, infelizmente, não falam abertamente o que são porque não se sentem compreendidos.
Quando Jesus encontrou a minha avó, há mais de 30 anos atrás, não havia tantas congregações evangélicas como agora.
Aliás, lembro-me que tínhamos de fazer 60km (ida e volta) para estarmos com quem cria no mesmo que nós. Dentro de uma celebração com a qual nos identificávamos.
E, não esquecendo que somos de uma cidade do sul de Portugal que, na altura, não era tão conhecida como agora. A minha avó, por exemplo, viu esta cidade evoluir. E vê-la evoluir com pessoas do mesmo credo foi um alívio.
E que alívio é para mim puder explicar-vos um pouco daquilo que compõe a minha vida, no que acredito e aquilo que sou, sem medo: cristã evangélica.
Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️
“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯
A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.
Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.
Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇
Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo
Wow! Que corazón enorme Dios te dió.
Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏
Que post sensacional sobre sermos o sal da terra! Maravilhoso ❤
O medo é uma realidade vencida pela coragem. És corajosa e tens mostrado prendas dadas por quem te ama a tal maneira.
És Ana, conhecida e amada desde a fundação do mundo.