Quinto e Sexto dia
8 de Setembro de 2023
Finalmente, estava na Cidade de David.
David que é o rei mais acarinhado pelo povo judeu, logo a seguir o rei Salomão - filho deste. Não foi o primeiro rei de Israel, pois o primeiro foi Saul. Contudo, não podemos ignorar que, a forma como David foi escolhido para ser rei desta nação, é uma das histórias mais bonitas que lemos no Antigo Testamento.
Por isso, já passavam vinte minutos das 8h e lá estávamos nós na cidade antiga. Onde tive a oportunidade de visitar e passar pelo túnel do rei Ezequias - que governou uns bons anos depois de David e quando os reinos estavam divididos entre o reino do Norte e o reino do Sul.
O mais curioso é que dois túneis foram escavados para que, durante o período da invasão síria, os judeus não ficassem sem água. Então, foram feitos dois grupos que começaram as escavações para os canais de água, cada um numa ponta da cidade.
Acabaram por se encontrar a meio - os homens que estavam nos grupos - cumprimentaram-se e seguiram com as escavações.
Estou a falar de metros e metros de profundidade. Assim como falo de metros de caminho caminho debaixo do solo.
Dado o facto que apenas um grupo conseguiu ter acesso à água, então agora haviam dois túneis: o de caminho seco e o que tinha água. E o que eles se lembraram de proporcionar aos turistas? Uma caminhada com a escolha de ir pelo túnel seco ou o molhado.
Sendo claustrofóbica - e para não ser a única do grupo que não iria entrar na aventura - optei pelo túnel seco. Garantiram-me que era mais amplo e iluminado. Enquanto o outro, algum do caminho teria de ser feito com água acima dos joelhos, agachados para não bater com a cabeça em pedras e todo o caminho seria feito com lanternas porque não havia qualquer tipo de iluminação.
Os meus parabéns a quem foi no túnel escuro e aos homens que há séculos e séculos atrás escavaram ambos.
Lá fui eu… cheia de medo, mas disposta a ultrapassá-lo. E sim, enfiei-me num túnel onde me disseram que era amplo. Mas, ao chegar lá vi iluminação - sim senhor, pontos a favor. Porém, amplo era só de altura. Pois dei por mim a ter que fazer algum do caminho de lado e inclinada.
Mas, enfim, lá passei o túnel. Para não pensar no facto de que estava num lugar fechado em que não dava para voltar atrás, ficava na brincadeira com a Cláudia e a Keyte que lá me iam entretendo para eu não surtar.
Obviamente que, para mim, a melhor parte deste túnel foi o fim dele. O alívio de ver a luz ao fundo do túnel foi fantástico. Agora, sempre que usar essa expressão vou tê-la mais sentida.
O resto do dia foi marcado por ver os lugares em que Jesus operou os seus milagres - como o tanque de Siloé. Idas a museus onde tínhamos acesso a réplicas de como era a Cidade de David durante a época do segundo templo e ainda os pergaminhos do Mar Morto que foram descobertos por beduínos. Pergaminhos esses que comprovam a veracidade da bíblia e ainda todo o Novo Testamento.
Um dos momentos altos para mim foi o Muro das Lamentações.
Visitámos no período da tarde e o lugar estava cheio. Não se comparava ao que eu já tinha visto por fotografias e vídeos. Era muito mais amplo e cheio de pessoas. Lá encontrei judeus de todo o tipo. Desde ortodoxos a messiânicos.
Toda a cidade é bastante vigiada e o exército anda por todo o lado. Assim como, para entrar lá há que passar pela segurança. Tal e qual como a segurança de aeroportos.
Por acaso, se há lugar no mundo onde mais me senti segura foi em Jerusalém.
Para além do tanque de Siloé onde Jesus curou um cego, fomos também visitar o tanque de Betesda onde Jesus curou um homem que estava paralítico há 38 anos. Todas estas histórias podes ler nos evangelhos que se encontram no Novo Testamento.
Agora, lembram-se de que no texto anterior mencionei que iríamos ter a oportunidade de visitar novamente o Monte das Oliveiras? Pois é, fomos logo para lá depois de toda a visita pela cidade antiga.
O lugar que estava reservado fora aberto para o nosso grupo para que, cada um, tivesse a oportunidade de orar naquele lugar onde Jesus agonizou antes de ser preso para morrer na cruz.
Eu que pensava que iria passar por um bocado apertado naquele lugar, na verdade, foi onde mais senti paz. Experimentei grande consolo, pois eu fiquei com a certeza de que toda a agonia que Jesus passou por causa de mim e de ti, não precisamos mais passar.
Nunca terei de agonizar a minha condição humana como Ele agonizou. O peso da maldade humana não caiu sobre os meus ombros, mas sobre os Dele. E nisso, eu vi consolo da Sua parte. Pois Ele suportou e venceu aquilo que eu não consigo por mim mesma.
Este dia 8 de Setembro calhou numa sexta-feira. E, quando chegámos ao hotel, muitos dos empregados tinham sido substituídos. Pude perceber que foram substituídos por árabes. E porquê? Porque já estávamos em período de shabat.
Começa sempre ao pôr-do-sol de sexta-feira e termina ao pôr-do-sol de sábado. Pois, para os judeus, a semana começa no domingo e não na segunda-feira como nós.
Qualquer tipo de comida que precisasse de ser feita em grelhas ou fogão, deixou de ser servida. O elevador parava em todos os andares, obrigatoriamente. Deixou-se de ver carros na rua e todos os estabelecimentos estavam fechados.
Pela janela do hotel via famílias inteiras em casa, ao redor de uma grande mesa. Quando via alguém na rua, eram judeus que se dirigiam para as sinagogas para celebrarem o shabat.
Nós, que iríamos passar agora este final de dia e o sábado sem “nada” para fazer, foi-nos dada a oportunidade de celebrar o shabat com judeus messiânicos que nos explicaram o seu significado.
Confesso que fiquei feliz por participar de um. Principalmente, por saber que este era um costume que Jesus tinha.
9 de Setembro de 2023
Ora bem, em pleno sábado o que fazem os turistas em Jerusalém?
Exactamente, vão até ao mercado árabe.
Achei tão curioso como tudo funcionava perfeitamente. Enquanto o dia sagrado para os árabes era à sexta-feira, o dia sagrado para os judeus era sábado. Nada interferia e todos estavam na sua vida.
Foi, inclusive, das coisas mais bem desmistificadas na minha mente: judeus, árabes, cristãos e arménios, vivem muito bem em Jerusalém!
Este dia tínhamos ele como “dia livre”. Aproveitámos para ir ver onde Jesus celebrou a última ceia com os seus discípulos e depois disso separámo-nos em mais grupos para fazermos as nossas compras e ainda comer uma bela shawarma.
A parte mais divertida, com certeza, foi negociar com os árabes. Aliás, em qualquer lugar que vás onde haja negócios árabes, se os preços não estiverem já estipulados, podes começar a desenrolar toda a tua arte de negociação porque eles gostam disso.
Aproveitei e comprei lenços bordados à mão, para mim e para a avó. Somos ambas apaixonadas por lenços. E aqueles valem bem a pena, principalmente porque são pura caxemira.
Porém, para os homens, se és fã de couro, lá vais encontrar muitos acessórios de couro verdadeiro e a preços que a tua negociação podem te fazer muito feliz.
Claro que isto não é tudo o que têm disponível para venda, mas são os que mais me recordo e o que mais me chamaram à atenção.
Não posso acabar este texto sem te dar outra dica: agarra qualquer oportunidade que tenhas para conversar com o pessoal local. Vão-te contar aspectos do seu dia-a-dia que nunca imaginarias ouvir. E o fantástico é que vais ouvir de pessoas de contextos e religiões diferentes.
Jerusalém é, sem dúvida, a minha cidade preferida no mundo.
Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️
“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯
A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.
Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.
Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇
Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo
Wow! Que corazón enorme Dios te dió.
Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏
Que post sensacional sobre sermos o sal da terra! Maravilhoso ❤
O medo é uma realidade vencida pela coragem. És corajosa e tens mostrado prendas dadas por quem te ama a tal maneira.
És Ana, conhecida e amada desde a fundação do mundo.