A experiência de perder alguém amado é uma das poucas experiências pela qual todas as pessoas no mundo irão passar. Nem todos irão casar ou mudar de país, mas todos passarão pelo luto.
Por isso, é necessário conhecer todas as suas fases - mesmo que existam pessoas sem qualquer acesso a ajuda terapêutica.
A experiência que o ser humano vive é igual em qualquer lugar, ainda que os ritos de funeral dependam de cultura para cultura. Mas, vamos nos focar na nossa cultura ocidental.
As fases do luto
A primeira fase é uma das mais evidentes: a negação.
É o momento em que se recebe a notícia que, como tal, resulta numa reação de choque de negar o que se acabou de ouvir.
Recordo-me que, quando o meu tio me deu a notícia à porta da escola, a única coisa que me passava pela cabeça era a constante repetição de “não pode ser, não é verdade”.
Ainda que a minha mãe estivesse num estado muito debilitado no hospital, a verdade é que não estava preparada para tal notícia.
Nunca estamos prontos e nem estaremos o suficiente para enfrentar uma realidade de viver o resto da nossa vida sem a presença daquela pessoa. Talvez aí esteja um ponto para olharmos com mais compaixão para nós mesmos num momento tão doloroso.
Em segundo lugar, temos a raiva, que é expressa através de comportamentos explosivos, impensados e carregados de palavras duras.
Creio que esta foi a fase que mais categorizou a minha adolescência. Havia em mim a noção de que não queria ser agressiva ou explosiva - principalmente, com os meus amigos -, mas parecia ser algo mais forte que eu.
Bem, tendo em conta que não tinha a noção de como trabalhar as minhas emoções, parece compreensível. Contudo, não o é.
Nesta fase, pode-se cair no erro de ferir pessoas que amamos e que nos querem bem. Pessoas que estão ao nosso lado durante este processo difícil e que, lá está, não merecem levar com a nossa raiva de viver.
Claro que só consigo ter noção de tudo isso agora, já adulta. Mas, isso não quer dizer que não tenha de o admitir e de rever alguns dos meus comportamentos. Pois podemos ficar presos nesta fase por um longo período se não tomamos consciência de que precisamos viver o luto em toda a sua trajectória.
Deste modo, a pessoa passa para o nível da negociação, que são pensamentos repetitivos de que poderíamos ter feito algo diferente para evitar o desastre, ou algo que poderia ter sido dito ou feito antes da partida da pessoa amada.
Por isso, é importante que, caso estejamos a acompanhar uma pessoa enlutada - ou sejamos nós a pessoa enlutada -, a ter em atenção a ajudar a pessoa a sair deste estado de pensamentos recorrentes que a podem prender a uma eterna culpa.
Após esta fase, é normal se avizinhar a depressão.
Vai muito além do choro. Envolve isolamento social, a incapacidade de continuar a vida, o trabalho, os projectos e os sonhos. Aliás, um dos grandes perigos é quando a pessoa já nem tem aptidão nem para fazer a sua própria higiene ou limpar a casa.
A forma como se alimenta, como se veste, como se apresenta (e não estou a falar de vestir a cor preta), vai relatar muito sobre o estado de espírito da pessoa.
Vale a pena prestar atenção em todas as fases, e ter o cuidado de não ficar preso em qualquer uma delas. Mas, esta em específico, é a mais importante de se tomar cuidado, pois pode levar a um luto crónico.
Porém, uma vida enclausurada na dor é deixá-la passar e perder a oportunidade de honrar a memória da pessoa que partiu que, com toda a segurança, não era isso que gostaria de ver.
Por fim, a aceitação. É quando a pessoa enlutada se dá conta de que a realidade é aquela e que não há como mudar. Já aprendeu como chamar a saudade de amiga e consegue separá-la da dor.
As lágrimas podem continuar a cair pelo rosto, mas caem numa mistura de alegria pelo tempo vivido e memórias construídas. É a leveza de saber que tais memórias nunca serão roubadas.
Coragem meu amigo, minha amiga…
Não há um tempo específico de duração para cada fase e nem pode haver pressa. Neste quesito, o tempo é amigo. O próprio corpo vai puxar reações para que o luto seja feito, o importante é estarmos dispostos a passar por ele e termos calma connosco.
Aquilo que eu peço a Deus é para te tenhas uma convicção enorme de que nunca estarás sozinho(a). Para além das pessoas que te amam e que estão ao teu lado, vais sempre poder contar com Deus.
Nele irás encontrar todo o consolo que o teu ser vai precisar. Todos os gritos silenciosos da tua alma, aqueles que surgem nas madrugadas, e que manifestam em repetidas lágrimas… todos eles são ouvidos e levados em conta pelo Senhor.
“Conheces bem todas as minhas angústias; recolheste minhas lágrimas num jarro e em teu livro registaste cada uma delas.” - Salmos 56:8
Posso dizer que é mais um capítulo escrito com muita graça e sem dúvida estas palavras são experiências de muitas dores pela perda de alguém muito importante em sua vida, mas também experimentou do amor de Deus que se importa com cada lágrima derramada. Que este lindo texto chegue em muitos corações que ainda vive dores e não consegue vencer a dor do luto.