Ainda que não tenha ouvido tais palavras da minha avó, eu cresci com a seguinte frase: “O tempo cura tudo”. E eu tenho a certeza absoluta que já ouviste o mesmo.
Mas, e se eu te disser que se trata de uma grande mentira? A forma que tenho de te provar tal coisa é ser um pouco mais vulnerável contigo.
Se já acompanhas o blog há algum tempo, então não é novidade para ti que a minha mãe faleceu quando eu tinha apenas 12 anos. Foi, sem sombra de dúvida, a maior perda que já experimentei e a maior dor que já vivi.
Mesmo sabendo que não se deve comparar dores, a verdade é que, ao longo destes meus quase 30 anos, não voltei a experienciar algo que me esmagasse tanto a alma quanto este episódio ocorrido em 2007.
Sabes… existem pessoas que, tal como eu e tu, carregam uma história forte e marcada de episódios traumáticos. Não podemos cair no erro de achar que somos os únicos que sofremos, como se tivéssemos sido os grandes sorteados na roleta-russa da dor e do sofrimento.
Por isso, tais pessoas, que se agarram ao pensamento de que o tempo cura tudo e de que não vale a pena mexer em certos assuntos porque já passou… na verdade, são as que mais sofrem e sofrem caladas. Pois a elas também não lhes foi dado o espaço e a confiança de lidarem com os seus próprios traumas, as suas dores, as suas perdas, os seus desconfortos, e por aí vai.
Então, não é de admirar que vão repetir o mesmo discurso e que não vão saber lidar com alguém que decidiu tratar todo o seu passado, todos os acontecimentos que deixaram a alma num trapo.
Recordo-me que um ano após o falecimento da minha mãe cheguei a ouvir comentários como: “Estás a esconder-te atrás da morte da tua mãe, isso já passou, pára com isso!”. Volto a repetir: eu tinha apenas 12 anos quando perdi a pessoa mais importante da minha vida.
Ouvi palavras muito severas e duras, mas a grande tragédia foi eu acreditar nelas e viver anestesiada até aos meus 25 anos. Se já és leitor(a) assíduo(a) do blog, então deves te lembrar do texto Saudade não é Dor, onde falei que é possível abrir mão das maiores dores da nossa vida.
Porém, isso só foi possível porque o meu corpo deu sérios sinais de que eu estava doente e que havia algo para ser enfrentado. O que indicava que havia uma cura que queria brotar mas não lhe era dado espaço.
E foi, exactamente, aos 25 anos que eu tive a oportunidade de fazer o luto da minha mãe. Chorei tudo o que aprisionei desde o seu funeral e abri mão dessa grande mentira de que o tempo cura tudo.
O mais curioso é que existe outra mentira - que se apresenta como estilo de vida - atrelada a esta: a grande tendência de colocar tudo debaixo do tapete. Ignorar o elefante que está na sala. Continuar a vida como se nada tivesse acontecido.
Que grande perigo! Mais cedo ou mais tarde, o corpo vai dar os seus sinais. Não é à toa que existem tantas doenças que aparecem “do nada” e que nem há relatos na família, assim como doenças psicossomáticas. Não é de admirar quem se afunda em trabalho ou quem foge dele ou de qualquer outro contacto social.
Tu e eu vivemos numa época em que não nos falta informação e conhecimento. Mas, a grande força continua na mentalidade com que fomos educados e o contexto onde crescemos.
Por esse motivo, e muitos mais, é que eu sou fascinada pela obra de Jesus na cruz. Pois Ele não deu a Sua vida apenas para nos salvar de uma condenação eterna, mas para nos salvar de um estilo de vida que aprisiona com as suas mentiras e nos resgatar de uma mentalidade onde não há espaço para cura.
Quando eu entendi isso, procurei toda a ajuda necessária - costumo até brincar e dizer que necessito do pacote completo: ajuda espiritual, terapêutica e rede de apoio - e percebi que a minha maior perda, a minha maior dor, precisava ser enfrentada.
E assim o fiz. Enfrentei a realidade, a morte da minha mãe, a dor da perda, a ideia de que ela não está mais aqui, que a vida vai passar e eu vou viver momentos dos quais ela não fará parte.
Abri mão dessa grande mentira de que o tempo cura. E o resultado? Sim, houve cura, mas não com ação do tempo.
Isso não significa que eu não derrame lágrimas de saudade pela minha mãe. Mas, te garanto, tais lágrimas não carregam mais dor.
Por mais que te seja desconfortável, abre mão dessa mentira. Não deixes que ela cresça ainda mais. Mesmo que já tenha criado raízes, põe mãos à obra e corta tudo isso. Enfrenta o que precisa ser enfrentado, mesmo que te traga desconforto. O mais importante é a forma como vais terminar: curado(a).
Encorajo-te a procurares toda a ajuda que necessitas. Lança-te nos braços de Deus, procura ajuda terapêutica e escolhe bem as pessoas com quem desabafar.
Por favor, não penses que és fraco(a) por pedir ajuda, muito pelo contrário! Quando admitimos a nossa fraqueza, aquilo que não aguentamos mais e pedimos por socorro…, aí está a maior evidência de coragem.
Obrigada por tanta profundidade!