Pela Fé

A Reforma Protestante é marcada pelo momento em que Martinho Lutero, ao ler Romanos, torna-se convicto de que o cristão vive pela fé.

Na verdade, vários foram os motivos que tornaram Lutero convicto de que viver pela fé era a única coisa que devia importar ao cristão. Os motivos eram tantos que resultaram em 95 teses.

Agora, de onde veio esse conceito?

Bom, em primeiro lugar quero esclarecer que não tenho o intuito de falar da Reforma Protestante. Mas sim de que, viver pela fé é, sem dúvida, o maior desafio para todo o cristão.

Sejas tu cristão ou não, se fores à Bíblia ou, simplesmente, pesquisares «o justo viverá pela fé», vais encontrar escrito nos seguintes livros: Habacuque, Romanos, Gálatas e Hebreus. Sendo que o primeiro encontra-se no Antigo Testamento e os restantes livros no Novo Testamento.

Mas, vamos ficar pelo primeiro livro: Habacuque. Um profeta que assistiu ao colapsar do seu povo. Os mais ricos tiravam proveito dos mais pobres, a idolatria a falsos deuses reinava, pouco ou nada importava a moralidade ou as leis de Deus…

Um caos completo para quem tanto prezava e conhecia tudo o que Deus tinha feito para cuidar do povo que Ele mesmo escolheu para ser exemplo.

Acho Habacuque curioso por dois motivos: primeiro, porque o seu nome significa “abraço”; em segundo lugar, porque é o único profeta que vejo levar todas as questões para Deus e pedir por respostas, em vez de falar directamente com o povo.

Deus responde. Na verdade, Ele sempre responde, tal como Timothy Keller escreveu: “Deus nos dará o que pedimos ou nos dará o que teríamos pedido se soubéssemos tudo o que Ele sabe.”

E, como tal, a resposta de Deus não foi a mais agradável. Sabia exactamente de tudo o que estava a acontecer e que as coisas ainda iriam apertar mais. A Babilónia estava a caminho. E se havia povo nada meigo, eram eles.

Ora, vamos colocar-nos um bocadinho nos pés deste homem.

Desesperado, levou todas as circunstâncias que o angustiavam a Deus. Recebe a resposta, mas de certeza que não esperava que as coisas iriam ficar piores - o que ficaram.

Porém, o que mais admiro neste pequeno livro da Bíblia é o facto de que Habacuque focou-se na segurança que Deus lhe passou ao dizer que aqueles que eram Dele iriam viver pela fé. No devido tempo, justiça seria feita. Mas os justos viveriam pela fé.

Então, esta célebre frase é dita pela primeira vez pelo próprio Deus - podes ler aqui - diante de um cenário caótico.

Creio que estas palavras proferidas por Deus foi o que levou o profeta a escrever o capítulo 3. Onde mais para o final ele traz a mais bela expressão de louvor e reconhecimento da soberania de Deus diante de um momento difícil e angustiante - podes ler aqui.

Gostamos muito de mencionar o final deste capítulo para situações difíceis na nossa vida que acabam num final feliz. Mas, e se não tiverem um final feliz, onde fica a nossa fidelidade a Deus?

O que vale aquilo que tanto defendemos e dizemos acreditar, quando nos focamos muito mais nas dificuldades da vida ou no que sentimos? Será que confiamos mesmo que Deus está no controlo de todas as coisas?

Lembro-me quando comecei a fazer terapia, a minha psicóloga depressa me disse: "Ana, a menos que haja intervenção divina, a ansiedade e os ataques de pânico não desaparecem... não têm cura." Que balde de água fria que apanhei naquele momento.

Até hoje lido com episódios terríveis causados pela ansiedade. Não acontecem com tanta frequência como antes - há sempre técnicas a serem feitas e orações respondidas. Mas, até hoje não sei porque Deus não arranca isto de mim.

Já lhe perguntei, já lhe supliquei... mas, a verdade é que eu passo a conhecer Deus mais intimamente nos momentos de dor do que em momentos de pura felicidade. Não sei que fim terá, mas eu preciso continuar.

Passo por noites difíceis, luto para continuar dia-após-dia. Mas, não deixo de olhar para Jesus no Jardim do Getsêmani onde Ele mesmo disse que estava profundamente triste a ponto de morrer. Tal e qual quem sofre de ansiedade e passa por ataques de pânico - Mateus 26:38.

Ao olhar para o meu Salvador eu posso descansar, porque Ele sabe exactamente o que se passa comigo. Assim como me faz lembrar que Ele é o Princípe da Paz. Só sei que os tremores cessam, os batimentos cardíacos voltam ao normal, o braço esquerdo não ficam mais adormecido.

A minha fé é vivida e aplicada a cada episódio triste como esse. Porque apesar do que o meu corpo sente eu sei quais são as raízes, mas também sei que aquilo vai passar. Assim como sei que Ele está comigo quando estou bem e quando estou mal.

Disse que achava curioso o facto de que o nome deste profeta significa “abraço”. E é exactamente assim que eu acredito que o seu livro termina. Com um abraço.

Habacuque sabia da promessa que Deus tinha feito ao seu povo. Tinha completa convicção de que Ele não tinha mudado de ideias e nunca o iria fazer. Depressa, o profeta transforma a sua aflição e angústia em esperança.

Como que num abraço, o profeta deixa uma bonita e real lição: a vida não é e nunca será um mar de rosas, mas isso não significa que Deus nos abandonou e nem significa que perdeu o controlo.

Apesar nas nossas escolhas teimosas de desejos vãos, que nos podem trazer sérias consequências. Ou das más escolhas de terceiros que nos afectam de alguma forma… Deus não nos perde de vista.

Contudo, a nossa fidelidade a Deus deve ser constante. Independentemente das circunstâncias da vida.

Devemos deixar-nos ser abraçados por esta convicção de que vivemos pela fé. Vivemos pelo que cremos e conhecemos do carácter de Deus. Pelo o que já fez e disse que iria fazer.

Vivemos pela realidade que esperamos e convicção daquilo que não vemos - Hebreus 11:1.

A fidelidade de Deus para connosco é um abraço aconchegante para nos lembrar que não importa o quão difícil a vida se torne, nós vamos continuar porque Ele nos sustenta.

A nós, basta-nos continuar firmes e crentes Nele, porque somos facilmente apanhados de surpresa pelos acontecimentos da vida… Deus não.