Primeira parte - o que é, os tipos de violência e os desafios das vítimas/sobreviventes.
Quando criei este blog sabia que estava na hora de começar a agir conforme o que sei que fui chamada a fazer: dar voz àqueles cuja voz lhes foi tirada.
Principalmente porque vi dentro de casa todos os comportamentos usados para que a mulher não tivesse o seu lugar e a sua voz.
Por isso, é preciso falar sobre violência doméstica, que é um dos assuntos que, por mais mencionado que seja, nunca será o suficiente.
É necessário que seja dada mais voz a este tema e educar mais pessoas para que possam saber como agir diante de uma situação assim e saber distinguir cada tipo de violência que ocorre.
O que é a violência doméstica?
A violência doméstica, tal como o nome já indica, é toda a violência practicada por alguém que tenha uma ligação familiar - não precisa ser exclusivamente o cônjuge (embora seja o mais comum). Engloba todo o tipo de comportamentos utilizados onde um exerce controlo sobre outro. De acordo com o art. 152º do Código Penal distingue-se entre sentido estrito e lato.
No sentido estrito engloba maus tratos físicos ou psicológicos, ameaças, injúrias, coacção, difamação, e ainda, crimes sexuais.
No sentido lato, inclui a violação de domicílio ou perturbação da vida privada (imagens, conversas, e-mails, revelação de segredos, etc), violação de correspondência ou de telefonemas, violência sexual, roubo e homícidio.
O enquadramento legislativo português indica que a violência doméstica é um crime público - o que significa que não está dependente de uma queixa apenas apresentada pela vítima. Então, se temos conhecimento de uma situação assim - ao não denunciarmos - estamos a ser coniventes e a deixar que a violência perpetue ao ponto de acabar de forma trágica.
Por isso, se és testemunha, denuncia.
Quais são os tipos de violência?
Existem seis tipos: emocional, física, sexual, social, profissional e, ainda, a perseguição.
Na violência emocional são usados comportamentos onde o(a) agressor(a) quer exercer medo e fazer o outro sentir-se inútil. Este tipo de violência acontece quando existem ameaças dirigidas aos filhos, quando se magoa os animais de estimação, quando se envergonha a pessoa diante do grupo de amigos, familiar ou em público.
A violência física, tal como o nome indica, é tudo o que é dirigido ao corpo da vítima. Desde murros, pontapés, estrangulamentos, queimaduras até impedir ou obrigar a tomar medicação.
Embora também sejam crimes cometidos ao corpo da vítima, a violência sexual existe quando se dá o uso da força para que a vítima faça o que não quer, às vezes até com outras pessoas.
Outro tipo de violência é a social. Aqui é tudo o que o(a) agressor(a) faz para que não haja acesso a familiares e amigos, impedir que trabalhe, e ainda impedir o acesso ao telemóvel e até controlar cada mensagem ou chamada.
Violência profissional também existe, e ela manifesta-se ao controlar o dinheiro do(a) parceiro(a), roubar, forçar a que justifique cada gasto ou, simplesmente, não dar dinheiro quando é preciso.
Por fim, a perseguição, que ocorre quando é usado qualquer comportamento para intimidar ou atemorizar o outro, tais como: esperas à saída do trabalho ou da casa de familiares. Ou seja, controlo de cada passo que a pessoa dá.
Agora, já que aprendemos o que é a violência doméstica e como ela é aplicada, podemos entender que quanto mais falarmos melhor. Pois estamos a falar de uma forma de salvar vidas.
A vida é importante e tem valor.
Mas, será que fica por aqui?
Cada vítima - ou sobrevivente - de violência doméstica lida regularmente com inúmeros problemas em qualquer área da sua vida, principalmente na área da saúde - e aqui tiro partido do exemplo da minha avó.
No que diz respeito a problemas de saúde física, podem apresentar-se como abortos espontâneos, ferimentos, e doenças sexualmente transmissiveis, e na saúde mental como depressão, ansiedade, pânico, insónias e ainda baixa autoestima.
Fora ainda a saúde espiritual, onde estas mulheres ou se sentem abandonadas por Deus ou ainda caem na mentira de que Deus permitiu que fosse assim “com um propósito”.
Contudo, não existe propósito nenhum na violência.
Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️
“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯
A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.
Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.
Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇
Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo
Wow! Que corazón enorme Dios te dió.
Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏
Que post sensacional sobre sermos o sal da terra! Maravilhoso ❤
O medo é uma realidade vencida pela coragem. És corajosa e tens mostrado prendas dadas por quem te ama a tal maneira.
És Ana, conhecida e amada desde a fundação do mundo.