"Deus veio a nós em sofrimento".
Esta foi a frase que ouvi do convidado que participou no especial de Natal do programa Entrelinhas - um programa literário da RTM Portugal do qual sou apresentadora e uma das produtoras.
Sendo esta data marcante, obviamente, teria de haver um programa especial apenas para esta comemoração.
Sabemos que esta não se deve limitar aos jantares e almoços de família e, muito menos, ao consumismo absurdo que vemos ao redor do mundo. Bem, na verdade sabemos isso mas não é assim que a coisa funciona.
No que toca a teorias somos excelentes. Já praticantes do que pregamos fica a cada ano mais difícil - ou sou só eu que tenho uma visão pessimista disto tudo?
Para mim - e creio que para mais crentes - o Natal passa por relembrar o momento mais estrondoso que este mundo já viu: o nascimento do Salvador. A humanidade que nada lhe tinha para oferecer, recebeu o maior presente de sempre.
Não havia mesmo nada para lhe oferecer e isso nem foi critério para o fazer pensar duas vezes se deveria de se aproximar a nós. Nem se prendeu a riquezas ou palácios. Bastou-lhe a família e o contexto cultural que Deus havia escolhido.
E, se Deus assim escolheu, assim é perfeito.
Recordo-me que, enquanto gravava este episódio com o Israel Mazzacoratti, derramei lágrimas de profunda comoção ao ouvir, de novo, a história do menino que viria a transformar a minha vida.
Como dizemos em bom português, já sabia isto tudo “de trás pra frente”. Nada me era novo, nada me era desconhecido. Mas vi que a beleza de Cristo na minha vida, às vezes, só precisa ser relembrada. Contada de novo e de novo, para que o meu coração fique outra vez apaixonado.
Tudo o que foi falado tinha sido baseado no capítulo 2 do evangelho de Lucas. Sendo este um médico que escreveu o evangelho com foco num público específico composto de pessoas desprezadas, explanou momentos do nascimento de Jesus e dele como recém-nascido, que não encontramos igualmente detalhado nos outros evangelhos.
Lucas, que não chegou a ser um dos doze apóstolos, mas que se preocupava com aqueles que não tinham voz - mulheres, crianças, idosos e até aqueles que tinham os trabalhos mais desprezíveis -, detalha quem celebrou a vinda do menino.
Porém existem dois aspectos importantes neste nascimento.
Estamos a falar do Salvador do mundo, não da próxima estrela de cinema e nem de um ilustre merecedor do nobel da ciência. Falamos de quem sempre existiu, de quem estava com Deus e que viu o homem ser formado do pó da terra. Aquele que conhece as estrelas uma por uma…
E é do agrado do Seu Pai que nasça numa família cuja mãe era muito nova, cujo pai terreno era um simples carpinteiro. E dada a época em que os romanos colocavam pesados impostos à população, esta família não tinha condições nenhumas para ter uma criança.
Mas quis Deus que fosse assim. E, volto a repetir: se Deus assim escolheu, assim é perfeito.
Nada para este casal foi fácil. Desde Maria estar propensa a ser apedrejada, ter de fugir da sua casa porque um rei obstinado decidiu que todos os meninos até aos dois anos deveriam ser mortos, dar à luz num estábulo - cujas condições são totalmente contrárias ao que um recém-nascido deveria estar exposto.
Nada é favorável, segundo o nosso olhar humano. Não há condições, não há comodidade nem para a grávida nem para o menino. Não há nada, pensamos nós que somos limitados. Para Deus todo este cenário era perfeito.
Jesus chega a nós desta forma. O Deus encarnado chegou a nós assim. Mais do que à vontade e mais do que humildade, o Salvador do mundo veio em fraqueza, em sofrimento e dor.
A partir de uma vivência comum ao que todos viviam naquela época, Deus revela-se à humanidade de modo oposto ao que se é esperado de um rei, de um vingador de uma nação.
Se não conseguimos ver um Deus que teve a humildade de se aproximar de nós ao ponto de se identificar com a vivência de um povo sofrido… eu não sei o que estamos, de facto, à procura.
Sabes, a vinda de Jesus e o seu quotidiano neste mundo não foram meras coincidências ou apenas uma pequena agitação social - até porque agitações sociais têm fim. Foi um marco histórico neste mundo para que a humanidade inteira percebe-se que, o próprio Deus, estava disposto a querer-nos de volta.
E não teve problema algum em se mostrar pobre e vulnerável. Tudo para nos garantir que um dia o sofrimento terá fim e que Ele mesmo se encarrega de limpar as lágrimas dos nossos olhos.
O problema é que estamos tão absorvidos nos nossos medos, nas nossas condições, naquilo que achamos impossível, que nos esquecemos - e contra mim falo, e muito - que se o Salvador do mundo não teve qualquer problema em vir até nós num contexto tão díficil e cheio de condições adversas, então não terá em se achegar a nós quando já não aguentamos mais
Por isso, quando te sentares à mesa com a tua família, com a tua família do coração, ou se estiveres só… lembra-te que a esperança do mundo nasceu - em condições de fraqueza e sofrimento - há mais de dois mil atrás para que eu e tu pudéssemos desfrutar de uma vida onde, mesmo em tumulto, temos vida em abundância.
Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️
“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯
A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.
Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.
Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇
Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo
Wow! Que corazón enorme Dios te dió.
Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏
Que post sensacional sobre sermos o sal da terra! Maravilhoso ❤
O medo é uma realidade vencida pela coragem. És corajosa e tens mostrado prendas dadas por quem te ama a tal maneira.
És Ana, conhecida e amada desde a fundação do mundo.